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Foto do escritorMarina Galvão

Apreciação é uma forma simples e bonita de impulsionar o outro a ser quem se é

Apreciar é algo simples e, ao mesmo tempo, com repercussões profundas - em nossa vida e na vida de quem nos cerca.


Podemos apreciar pequenas - e grandes - coisas em nós mesmos e no outro.


A apreciação, assim como a aceitação, o amor, o apoio, a compreensão, está dentre as necessidades humanas básicas, ou seja, cada um nós deseja e precisa ser apreciado.


Mas na prática, temos bastante dificuldade de sermos apreciativos e isso diminui nosso potencial e empobrece nossas relações.





Não construímos o hábito de apreciar


Nós nos acostumamos a oferecer críticas às pessoas, ressaltando o que não está bom. Treinamos o nosso olhar para perceber em si, no outro e no mundo o que precisa ser melhorado.


Acreditamos que se a crítica for “construtiva” iremos contribuir para uma mudança positiva, uma melhora desejada. Mas quando trazemos uma crítica que reforça pontos indesejados de um amigo, colega de trabalho ou familiar, acabamos alcançando um resultado contrário ao desejado.


Quando são criticadas, as pessoas se sentem atacadas e têm a tendência de se posicionar de uma maneira defensiva, o que acaba reforçando a atitude indesejada.


Por outro lado, quando encontramos algo digno de admiração e oferecemos uma apreciação, acabamos promovendo os comportamentos e atitudes que desejamos encorajar. Ou seja, potencializamos as pessoas.


Além de que, de acordo com a pesquisadora Nancy Kline, quando são criticadas as pessoas tendem a ter uma qualidade inferior de pensamentos, e quando são apreciadas, se sentem mais confiantes e conectadas e, consequentemente, pensam melhor.


Quando abordamos o tema da apreciação existem alguns pontos interessantes para se pensar a respeito:


  1. A diferença entre elogio e apreciação

  2. A diferença entre reconhecimento e apreciação

  3. Para apreciar não precisamos concordar

  4. Quando nos anulamos esvaziamos as apreciações




1. A diferença entre apreciação e elogio


Muitas vezes, regados de boa intenção, oferecemos elogios e achamos que estamos oferecendo apreciações.


"Você desenha muito bem!” "Você é uma pessoa muito caprichosa." Essas frases são elogios, porque muitas vezes carregam julgamentos daqueles que os oferecem, ainda que sejam julgamentos positivos.


Por mais que o elogio possa ser sincero, ele costuma ser superficial, raso e genérico. O elogio, em sua maior parte, passa pelo que é visto à “olho nú” e muitas vezes, somado a um julgamento.


A apreciação é sincera e genuína. Ao fazermos uma apreciação, buscamos identificar alguma coisa pela qual somos gratos e oferecemos ao outro de maneira expressa.


Elogio:

- nossa, você tem um sorriso lindo!

Apreciação:

- aprecio a leveza com que você conduz os desafios, isso me traz muita calma.


O elogio revela muito pouco do que está acontecendo dentro de quem o oferece e acaba colocando essa pessoa em uma posição de poder julgar - o que é certo, bom, bonito.


Além de que, ao apreciarmos não estamos sendo movidos por quaisquer motivos egoístas ocultos. E, no seu extremo, o elogio pode levar a bajulação: um elogio “falso”, excessivo, pouco sincero e que normalmente carrega a intenção oculta de agradar para manipular.


Pode-se dizer que a diferença crucial entre apreciação e bajulação é a motivação. A apreciação é motivada pela gratidão. E a bajulação é motivada pelo egoísmo.


Parecem coisas obviamente distintas, mas é sempre importante ter em mente que a apreciação deve ser usada para celebrar e não para manipular. A apreciação não tem o objetivo de obter algo em troca.


2. A diferença entre apreciação e reconhecimento


Pode-se dizer que o reconhecimento é finito e a apreciação é atemporal. Mas como assim?


A apreciação tem pontos em comum com o reconhecimento.


Podemos apreciar a personalidade, as habilidades, a postura perante os desafios ou situações. E pode ser que, ao apreciar o que a pessoa é, isso conduza a situações que podem ser reconhecidas ou não.


Para reconhecer alguém é preciso analisar algum acontecimento passado, algo que a pessoa tenha feito, uma ação, uma contribuição concreta no tempo.


Por sua vez, quando apreciamos alguém olhamos para seus valores, quem a pessoa é, suas crenças, mas não precisamos necessariamente apreciar algo que ela tenha realizado, ou seja, são características atemporais.


Muitas vezes o reconhecimento e a apreciação se misturam, se confundem ou se complementam, mas se fossemos diferenciar poderíamos dizer que: apreciamos o que as pessoas são e reconhecemos o que as pessoas fazem.


Além de que, o reconhecimento dispensa uma análise qualitativa, ou seja, você pode reconhecer uma atitude sem necessariamente dizer se ela foi boa ou ruim.


Reconhecimento:

  • Reconheço o tempo que você dedicou para estar conosco neste trabalho.

Apreciação:

  • Aprecio o cuidado que você dedica em seus trabalhos.


3. Para apreciar não precisamos concordar


Quando estamos em uma conversa com outra pessoa e ela está expressando seus pensamentos a respeito de um tema e nós concordamos com o que ela está dizendo, não significa que estejamos apreciando ela.


A apreciação independe de concordância. Eu posso apreciar sua forma de pensar ou sua maneira de se expressar, mesmo que eu discorde totalmente do conteúdo que você está trazendo em sua fala.


Na maior parte do tempo, acreditamos que estamos certos, que nossas escolhas são as corretas e que aquele que pensa diferente de nós está errado. Então, no momento que percebemos a discordância entre o que consideramos o certo e o errado, criamos um bloqueio que dificulta o reconhecimento de características "apreciáveis" no outro.


Mas a verdade é que muitas vezes iremos apreciar justamente as diferenças entre a forma como a pessoa é a nossa forma de ser.


A concordância por si só não é uma apreciação. Para apreciar precisamos buscar identificar quais são os elementos na forma de ser do outro, que admiramos e que nos afetam.


A humildade que nos permite apreciar uns aos outros torna o mundo mais forte e positivo – e traz mais resiliência a cada um de nós. - Arun Gandhi



4. Quando nos anulamos esvaziamos as apreciações


Quem é que nunca fez ou deixou de fazer alguma coisa para agradar os outros? Quem é que nunca se anulou para ser “apreciado”?


Acredito que todos nós já experimentamos esse lugar.


Mas nesse tipo de situação, quando forçamos ou anulamos uma atitude buscando forçadamente uma “apreciação” e recebemos uma espécie de aprovação do outro, ela não nos serve a nada. É como um alimento de calorias vazias - um biscoito recheado ou uma batata chips - engana a fome, mas não nutre as células.


Afinal, em essência, a forma como você agiu “nem era você”, então, quando essa “apreciação” chega, ela é apenas um mecanismo de feedback que confirma que seus esforços tiveram o efeito desejado, mas que não te alimenta de fato.


Apenas quando conseguimos agir em coerência com o que acreditamos, sendo integralmente o que somos, é que as pessoas podem realmente nos apreciar. Nesse momento é que recebemos uma nutrição de base, que impulsiona a nossa essência e fortalece as nossas células.

E, quando chega, esse tipo de apreciação nos traz a verdadeira alegria de celebrarmos a nós mesmos de uma maneira que a aprovação dos outros nunca poderá nos oferecer.


"Para pensar, precisamos de sangue, e para o sangue fluir precisamos de apreciação. É lindo.“Quando nós apreciamos uns aos outros, nós pensamos melhor. Quando pensamos melhor, amamos mais. Quando amamos mais, vivemos melhor. E esse é o ponto de tudo, não é mesmo?” - Nancy Klein


Como apreciar?


Trouxe aqui algumas dicas e diferenciações entre a apreciação e outras formas de oferecer admiração ou gratidão por alguém.


Mas não se apegue a um preciosismo teórico! Ofereça suas apreciações - ou reconhecimentos, elogios, palavras de amor - sempre que sentir vontade! Expresse explicitamente por texto, áudio, imagens, sempre que o seu coração se conectar com algo ou a sua mente admirar alguém e, aos poucos, traga atenção para como pode praticar e melhorar seu formato.


Benefícios: incluir a apreciação no nosso dia a dia pode trazer enormes impactos.


Apreciar o outro em qualquer contexto que seja - amizade, familiar, trabalho - contribui de forma única para a evolução individual e relacional. A apreciação é essencial para sustentar a energia de qualquer relacionamento.


A apreciação apoia a pessoa no processo de descoberta de si mesmo, auxilia a ganhar clareza sobre pontos importantes. Quando apreciamos o outro contribuímos para que ele siga com mais convicção e com mais espaço para ser quem verdadeiramente é em suas relações e em sua jornada como um todo.


Além de que, os benefícios se fazem sentir também para quem oferece a apreciação. Podemos sentir em nós a excitação de oferecer ao outro uma apreciação e também somos nutridos nesse processo.


Os ambientes nos quais a apreciação é parte do sistema as pessoas tem espaço para serem mais livres, criativas e verdadeiras.


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