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  • Foto do escritorMarina Galvão

EMERGÊNCIA: Como algo pode ser maior do que a soma de suas partes?


O QUE É A EMERGÊNCIA, E COMO PODEMOS ENTENDER MELHOR ESSE FENÔMENO?


Uma forma interessante de compreender esse fenômeno é analisar as formigas. Uma formiga individualmente é algo bem frágil, e em certa medida um recurso bem limitado. Mas quando as formigas estão juntas elas têm uma potência e uma inteligência absurdas!


Uma comunidade de formigas - ou um formigueiro - consegue construir defesas, armazenar comida, cuidar do bem estar coletivo e realizar outras atividades que individualmente seriam impossíveis.


Esse entendimento parece apontar para o exercício de uma simples somatória, ou seja, para o fato de que 2 valem mais do que 1 e que consequentemente 600 formigas realizam algo que somente uma não seria capaz.


Mas na realidade esse fenômeno aponta para algo diferente: o surgimento de algo novo, que é maior do que a soma de suas partes.


MAS COMO ALGO PODE SER MAIS DO QUE A SOMA DE SUAS PARTES?


Esse fenômeno é conhecido como emergência (emersão ou aparecimento) e acontece não só com as formigas, mas com uma série de sistemas complexos que estão à nossa volta.


Emergência é a complexidade emergindo da simplicidade.


A lógica é que, ao colocarmos várias formigas juntas, não teremos um “monte de formigas”, mas sim, algo que vai além da soma delas; teremos a estrutura e a complexidade de funcionamento de um formigueiro, ou seja, toda a inteligência emergente daquele sistema.


Da mesma forma, se colocarmos vários seres humanos juntos teremos mais do que um “monte de humanos”, e não conseguiremos prever quais padrões complexos irão emergir, quais acordos serão firmados, quais regras serão estabelecidas ou quais hábitos farão parte da dinâmica do grupo. Enfim, não sabemos qual cultura irá emergir.


O que acontece nesse fenômeno é que alguns padrões complexos se formam - emergem - a partir de uma série de interações simples.


Se prestarmos atenção podemos ver a emergência em tudo - ou quase tudo; afinal, interações estão acontecendo o tempo todo, e muitas delas seguem essa mesma lógica de, ao interagirem entre si, criarem algo que vai além da existência de si mesmo.


A química pode ser vista como a emergência de interações de partículas, a

biologia celular como uma emergência das interações químicas, os seres humanos como uma emergência de interações na biologia celular, as civilizações como uma emergência das interações entre os seres humanos, e a história da humanidade como uma emergência de interações entre civilizações.


Aquilo que emerge ao interagir com outros elementos similares pode acabar promovendo outra emergência. Ou seja, de acordo com essa percepção, a vida pode ser entendida como “camadas de emergência” que misturam complexidade e simplicidade todo o tempo.


INTERESSANTE, NÃO É MESMO? MAS O QUE FAZ DA EMERGÊNCIA ALGO TÃO ESPECIAL?


O mais interessante da emergência é que não existe um chefe, ou uma entidade, que controle os trabalhos das partes ou dos indivíduos. Não há um “comando superior” que determine que aquele padrão deva passar a existir.


Mesmo que cada formigueiro tenha sua(a) formiga(s) rainha(s), cada uma das formigas operárias é uma unidade autônoma que reage de acordo com as interações que experimenta ao seu redor.


As ações e interações entre os seres humanos também podem ser consideradas parte desse fluxo aleatório. Em regra nós não podemos planejar quem nós vamos encontrar no fluxo da nossa vida, e mesmo que possamos fazer algum planejamento, não saberemos ao certo que tipo de conversas, sentimentos e reações vão emergir desses encontros.


ENTÃO ESSE FENÔMENO É TOTALMENTE IMPREVISÍVEL?


Pode-se dizer que sim, mas existem algumas regras simples e elegantes que permitem uma “certa previsibilidade”, e também algum nível de influência das ações que emergem como consequência no grupo.


Por exemplo, quando um formigueiro perde várias formigas guardiãs, as outras formigas percebem, pelos componentes químicos liberados por outras formigas, que elas estão em pequeno número. Como a proteção do formigueiro é algo primordial, rapidamente as formigas operárias mudam de função para reequilibrar os papéis dentro do formigueiro.


Essa transformação emerge naturalmente a partir da interação entre as partes - sem que seja comandado pela formiga rainha -, mas obedece a uma regra simples: o equilíbrio de papéis entre os integrantes do formigueiro.


No corpo humano é a mesma coisa. Pense nas células “marca-passo” do seu coração: milhões delas têm que enviar um impulso no momento certo para coletivamente conseguir criar um batimento cardíaco. Elas trocam informações entre si e definem o que fazer. E a mesma coisa acontece com o fígado, pulmão, e com todos os outros órgãos.


Não existe um “chefe” coordenando essas ações de dentro de cada órgão, somente unidades individuais que se comunicam umas com as outras e agem de acordo com o feedback que elas recebem do ambiente. Mas existem algumas regras simples que viabilizam essas funções.


Agora imagine uma emergência “um pouco mais intencional”.


MAS COMO ASSIM?


Imagine um grupo de indivíduos interagindo em um espaço no qual se intenciona falar de amor? E, mais do que isso, imagine um grupo de indivíduos que intenciona construir e prosperar relações mais saudáveis entre seres humanos.

Se essas são as “regras elegantes” desse sistema, onde o fenômeno da emergência pode nos levar? Quais padrões complexos podem emergir dessas interações amorosas? Que tipo de comunidade pode emergir a partir desses indivíduos? E a partir dessa emergência quais outras interações podem ocorrer desencadeando outras camadas de emergências?


A verdade é que eu também não sei. Uma comunidade precisa atingir um determinado nível de organização, conectividade e diversidade previamente, para que o comportamento emergente venha a ocorrer, mas, pelo que venho percebendo, algumas transformações potentes realmente podem emergir de uma comunidade que opera de acordo com essas “regras”.


Algumas coisas que emergem são difíceis de definir, porque em regra não conseguimos acessar o seu “todo”, somente as suas partes; ainda assim, tudo que emerge interage com o seu arredor e potencializa a emergência de outros padrões.

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Texto inspirado nas pesquisas de Philipp Dettmer

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