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  • Foto do escritorMarcelle Xavier

MCV: Por onde começar a criação de uma comunidade?

Partindo do Design de Conexões, a abordagem criada pelo Instituto Amuta, desenvolvemos uma base para quem deseja começar a estruturar uma iniciativa com objetivo de evoluir suas relações e comunidades que chamamos de MCV (mínima comunidade viável).


A ideia de estruturar o MCV dentro do Design de Conexões veio do encontro de duas necessidades:

  • ter uma base minimamente estruturada que materializa nossas intenções indo para um campo mais objetivo da nossa atuação como designers de conexões

  • ao mesmo tempo, não criar estruturas desnecessárias e que eventualmente até limitem o nosso movimento.


Isso porque no meu trabalho com criação de comunidades, já experimentei caminhos mais metódicos e outros mais emergentes, e percebi que pra mim foi bem importante integrá-los.


As abordagens mais metódicas nos convidam a pensar nas nossas comunidades através de uma lente mais tradicional que envolve uma fase mais longa de investigação e coisas como planejamento, desenho de personas, entregas, prazos, etc. Já as abordagens mais emergentes, nos convidam a abrir o espaço para a relação, e começar a evoluir a partir do que emerge.


Quando experimentei caminhos mais metódicos percebi algumas limitações, que carinhosamente chamei de VALE DO PLANEJAMENTO caracterizado por:


  • A longa espera: eventualmente ficamos presas no planejamento, e gastando uma energia enorme para aparar todas as arestas e ficar tudo redondinho, o que vira uma desculpa para não começar a agir e se relacionar

  • Uma mera abstração: quando começamos a colocar a estratégia em ação, percebemos que grande parte do que planejamos foi uma grande abstração e não se sustenta no mundo real

  • O tempo do movimento: o que ocorre é que às vezes investimos tanto tempo em planejar, que ao colocar a estratégia em ação um monte de coisa já se movimentou e mudou.

  • Espaço para a relação: às vezes ficamos tão ensimesmadas no nosso planejamento que não abrimos espaço para perceber e agir a partir do que emerge.




Por outro lado, quando experimentei uma abordagem mais emergente, também vivi alguns desafios, que chamei de VALE DO CAOS:


  • Falta de clareza generalizada: meus convites para as pessoas não são tão claros e a intenção delas do porque estão aqui acaba também não sendo. O mesmo vale para os nossos acordos, para os papéis… E o problema é que isso pode contribuir para geração de expectativas pouco explicitadas e um sentimento de confusão que pode prejudicar as relações.

  • Ações pouco estratégicas: em alguns momentos que eu construí minhas comunidades somente a partir do que emerge, eu me desconectei do foco da iniciativa e acabei dispersando a energia e os recursos em ações pouco conectadas com objetivos mais estratégicos.



Foi por isso que resolvi criar o MCV como um mapa, que nos ajuda a ganhar mais consciência sobre nossas intenções, o que facilita com que a gente não se perca no caminho (ou ao menos se perca menos). Mas ao mesmo tempo não se perca também em planejamentos abstratos, e por isso a ideia é gastar o mínimo de tempo e energia nessa estruturação, focando apenas no que é essencial para começarmos a experimentar.


Não existe uma regra estática do que é fundamental responder no MCV, porque algumas pessoas têm mais necessidades de estruturação e outras menos. Por isso, a principal pergunta que o MCV visa responder é: quais as mínimas estruturas são importantes para que a gente se sinta segura o suficiente para se relacionar lidando com o que emerge?



As mínimas estruturas necessárias


1. Valor da comunidade


Tudo começa com uma intenção, e ela ganha força se você ganha clareza de como a sua iniciativa de comunidade torna a sua vida e dos seus membros melhor, mais rica, mais fácil, mais divertida. E se sua iniciativa estiver de alguma forma atrelada a um negócio, qual o valor que ela tem para a organização.


Existem inúmeras formas de gerar valor através de comunidades, e no Design de Conexões listamos pelo menos 7: bem estar social, aprendizagem, apoio para desafios pessoais, transformação social, inovação, colaboração e marketing. Mantenha o foco, e escolha algo que você possa mensurar os impactos reais no seu negócio e voilá! (David Spinks).


2. Objetivos e mensurações


Agora que você já tem um direcionamento do valor que você pretende gerar com a sua comunidade, é hora de começar a pensar nos objetivos estratégicos que se desdobram a partir daí.


Os objetivos são um passo a mais na materialização da sua intenção, e ao criá-los você pode desdobrar em formas de acompanhar como você está avançando neles e até justificar o retorno do investimento (de tempo e dinheiro). Afinal, independente da comunidade que você criar, uma coisa eu posso garantir: vai exigir tempo, energia e trabalho árduo para criar e principalmente para sustentá-la.


O valor de uma comunidade é sempre tangível e intangível, e ao meu ver, é normalmente o que atrai e sustenta as pessoas nas relações e espaços comunitários são ganhos mais subjetivos e motivações mais intrínsecas. Mas não é porque é subjetivo que não podemos intencionar e acompanhar.


Os valores tangíveis são coisas que posso perceber objetivamente e mensurar, e valores intangíveis envolvem como eu as pessoas se sentem e quais necessidades emocionais ela cuida, tais como: conexão, pertencimento, apoio, senso de realização, preenchimento, diversão.


O principal ponto na construção de objetivos de comunidades é que embora existam sim coisas que podemos medir quantitativamente, o objetivo base de qualquer comunidade precisa ser o de aumentar a conexão, o pertencimento e o cuidado mútuo. E esses são objetivos que podem ser observados, sentidos, percebidos, mas dificilmente são medidos quantitativamente.


Por isso, ao criar nossos objetivos, tenho o cuidado de incluir mais dados quentes, como histórias, sorrisos, choros compartilhados, pedidos de ajuda observados (...) do que dados “secos” ou “frios” como pesquisas quantitativas, “NPS”, pipelines… NPS de comunidade pra mim é quantos sorrisos as pessoas trocam.


“O cuidado é principalmente qualitativo. uma comunidade é saudável quando as relações são sentidas profundamente, quando há histórias de confiança, um senso compartilhado de pertencimento mútuo, normas de compromisso mútuo, e afeto real do coração e da alma um do outro para o outro”. (David Brook)

3. Identidade, Relações e Experiências


No Instituto Amuta entendemos que comunidade é um tipo específico de organização social que ao reunir pessoas faz com que elas sintam que pertencem. Todo o objetivo do nosso trabalho é, portanto, aumentar progressivamente o pertencimento. E no Design de Conexões fazemos isso através dos pilares: identidade, relações e experiências.


  • Identidade: Pertencimento é quando eu me percebo como parte de algo algo maior que eu. Para isso precisamos gerar uma identificação, o que nos conecta (propósito, gostos, valores, vontades)? E como eu impacto esse todo (qual meu papel)? E de que todo estamos falando (quais as fronteiras, limites, acordos)?

  • Relações: O pertencimento é fortalecido quando as relações são de interdependência, ou seja, quais estratégias criamos para gerar autonomia e intimidade? As relações alimentadas no um a um, e em pequenos grupos vão criando as costuras que formam os “nós” da comunidade.

  • Experiências: O pertencimento é aprofundado quando vivo repetidamente experiências compartilhadas, e quão mais significativas essas experiências são. O que vivenciamos na comunidade, o que fazemos juntos, quais rituais marcam e dão significado à nossa existência compartilhada?


Quando estamos construindo o MCV temos algumas hipóteses sobre o que nos une, como vamos cuidar das relações e quais experiências vão agregar o valor que eu idealizei no início. Partimos então dessas hipóteses para começar a experimentar e evoluímos a partir daí.


Conclusão:


Construir o MCV facilita a criação das bases de qualquer iniciativa desenvolvida para cuidar e evoluir as relações. Nem todas as estruturas apresentadas aqui serão necessárias em todas as iniciativas, mas partir delas pode ser útil para começar. Qual o valor da sua iniciativa? Quais os objetivos? O que une as pessoas? O que você irá fazer para conectá-las? O que elas irão experimentar? Convide algumas pessoas, responda em poucas palavras, e comece a experimentar.


PS: Esse conteúdo é aprofundado na formação de Design de Conexões do Instituto Amuta que acontece uma vez por ano. Inscreva-se na nossa lista de espera para receber notícias da próxima turma.

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