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  • Foto do escritorMarcelle Xavier

O que me afeta me transforma

A palavra afeto deriva do latim affectus e significa ser tomada por sentimentos, comovida. Afeto é aquilo que me atravessa e que, por me atravessar, me modifica, me move.


Ninguém passa ilesa ao afeto. Afeto é então janela aberta, é se permitir modificar-se e modificar o outro, afinal, todo encontro onde há afeto, a gente se modifica, nem que seja uma mera alteração no nosso estado emocional temporário, o afeto sempre nos desloca.


Se afetar é abrir espaço para que a vida nos atravesse, para que os nossos encontros nos ampliem. Mas como tudo aquilo que nos amplia, o afeto também é rasgo, dor, fratura, intensidade, ausência de controle.


Como fluir nos nossos afetos se aprendemos a negar a dor, a controlar a vida, a moralizar as paixões, e, consequentemente a negligenciar o afeto? Nossos afetos foram domesticados, aprendemos a reprimi-los e assim perdemos nossa capacidade de movimento.


É o que as psicanalistas entendem como contração ou encouraçamento. Nos endurecemos muitas vezes para tentar nos proteger do movimento da vida, mas ao negar os afetos, negamos a própria vida. Nos tornamos impotentes, imobilizadas, incapazes de produzir novas formas de ser estar no mundo.


E se muitas vezes nos falta coragem para o afeto, definitivamente também nos falta tempo. Na sociedade do desempenho falta o espaço e o tempo necessários para que sejamos capazes de experimentar nossos afetos. Mas, precisamos de tempo para nos afetarmos.


Quer um exemplo? Um experimento sobre altruísmo foi realizado com um grupo de quarenta estudantes seminaristas que estavam se preparando para fazer um sermão. Metade das estudantes fariam um sermão sobre o Bom Samaritano que ajuda um desconhecido à beira da morte que encontra na estrada. A outra metade faria um sermão sobre tópicos aleatórios. Ao se direcionar para o espaço do sermão, havia um homem caído gemendo de dor. Mais da metade das estudantes passou direto. Ao analisar aquelas que pararam para ajudar,o fator que teve mais importância foi o fato de não estar com pressa, e não o fato de estar estudando sobre o tema.


Como estamos quase sempre com pressa, não damos nem chance da vida nos atravessar e de elaborarmos os nossos afetos.


“Estamos exaustos e correndo. O corpo então virou um atrapalho, um apêndice incômodo, um não-dá-conta que adoece, fica ansioso, deprime, entra em pânico. E assim dopamos esse corpo falho que se contorce ao ser submetido a uma velocidade não humana. Viramos exaustos-e-correndo-e-dopados. Porque só dopados para continuar exaustos-e-correndo. Pelo menos até conseguirmos nos livrar desse corpo que se tornou uma barreira. O problema é que o corpo não é um outro, o corpo é o que chamamos de eu. O corpo não é limite, mas a própria condição. O corpo é.” Eliane Brum

É por isso que nossas relações, comunidades e organizações estão todas encouraçadas, contraídas, incapazes de se movimentar. Hoje muito se fala em transição das organizações - organizações que aprendem, aprendizado ao longo da vida, novos modelos de gestão. Mas como mudar qualquer coisa se não há espaço e estímulo para o afeto?


A forma como os eventos coletivos são marcados normalmente é através de informativos, apresentações no Power Point, e palestras motivacionais. As formas como celebramos nossos avanços, aprendemos e cultivamos relações dentro das organizações falham em nos tocar, nos conectar e criar significado. E ninguém transiciona nada sem afeto, pois a ação é filha do afeto.


“Os ocidentais profissionalizaram e racionalizaram o mundo até tirar a sua alma. É em momentos como esse que as pessoas precisam de camadas mais profundas de significado.” Meike Ziegler

É por isso que precisamos criar as condições para que o afeto entre pelas brechas. No Instituto Amuta fazemos isso através do design de experiências e rituais que promovem um resgate da nossa sensibilidade. Integrar rituais nas nossas comunidades reduz a nossa ansiedade em relação ao futuro, aumenta a nossa confiança, nos dá estabilidade em meio a mudança, nos tira da solidão, nos permite uma maior compreensão sobre a nossa vida, e enriquece nossas relações.


Precisamos operar nas dimensões estética, espiritual, mitológica e simbólica para criar momentos significativos nas nossas comunidades. Somos almas em busca de significado e os rituais nos ajudam a abrir espaço para o afeto entrar pelas brechas nas nossas comunidades. Como você pode abrir espaço para se afetar e se movimentar a partir dos afetos nas suas comunidades?



Uma missão para criação de experiências afetivas:

Pesquisa: (que embasa a nossa missão)


A música pode ampliar nossa capacidade de nos afetarmos uns com os outros.

Estudo realizado expôs um grupo de crianças em idade escolar primária a jogos musicais com outras crianças durante uma hora por semana ao longo de um ano letivo, enquanto dois grupos de controle de crianças da mesma idade não receberam jogos ou participaram de jogos envolvendo drama ou narrativa no lugar de música. Todas as crianças passaram por avaliações relacionadas a sua capacidade empática no início e no final do ano; e apenas o grupo de música aumentou significativamente suas pontuações ao longo do ano, sugerindo que a música pode ter desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento de empatia. (Fonte: Four Ways Music Strengthens Social Bonds, pessoas autoras: Tal-Chen Rabinowitch, Ian Cross e Pamela Burnard


Nome do artefato: The Sound of Amuta (inspiração Projeto The Sound of Love) Categoria: União Tipo: experiência Objetivo: criar uma playlist colaborativa a partir das histórias de impacto vividas pelos membros da comunidade Tempo: 60 min Dificuldade: médio

Passo a passo:

  1. Peça que as pessoas participantes da comunidade tentem se lembrar de uma música que acreditam que representa uma comunidade.

  2. Ao enviar a música, peça que também compartilhem uma história que se lembram quando escutam essa música e porque a associam com a comunidade. Pode ser uma história com um dos membros, com todo o grupo, com o que os conecta, com um momento vivido…O mais importante é que as histórias sejam pessoais e que tenha compartilhamento de sentimentos .

  3. Faça o pedido diretamente a membros mais ativos da comunidade, e depois de já alimentar um documento compartilhado com alguns depoimentos, envie para os demais ou através do grupo para quem quiser contribuir. Crie uma data limite para os envios das respostas.

Veja aqui o artefato produzido pela comunidade do Instituto Amuta.







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